Wednesday, February 24, 2010

(crónica publicada no Sportugal.pt.  set.2006)


Foi um prazer, André

Por norma não se dão os parabéns a quem perde um jogo ou abandona um torneio. Mas no caso de André, a história é diferente. Porque ele merece-os. Ao ser derrotado no Open do país que o viu nascer, Agassi abandonou definitavemte os courts - ponto final numa carreira ímpar de 21 anos.

Num percurso de notável longevidade, que se prolongou durante três décadas, André Agassi nem sempre foi aquele exemplo que os mais novos reconhecem nele hoje. Porque da sua infância rebelde, várias histórias ficaram.


Um dos primeiros treinadores que teve, quando, aos 13 anos, chegou à Academia de Ténis Nick Bolletieri, na Florida, recorda-o: “Nunca tinha encontrado um miúdo como o André. Parecia que as regras tinham sido inventadas para ele as quebrar; que os adultos existiam para serem testados por ele”, relembra Bolletieri. Que sublinha: “Vestia como ninguém, era uma bomba relógio ambulante, extremamente sensível e que transpirava carisma”.

De facto, no início, Agassi era desprezado pelos seus pares e adorado pelos adeptos. Numa carreira que chegou a cruzar-se com o álcool e as drogas, foi o passar dos anos que ajudou André a encontrar o trilho certo. Para trás ficaram os tempos em que o norte-americano chegou a cuspir nas calças de um árbitro (US Open 1990); a apelidar de “palhaço” o presidente da Federação Internacional de Ténis; ou a ser expulso do Torneio de Indianápolis (1996) por insultos continuados a um árbitro.



“É o jogador que mais mudou enquanto pessoa e tenista”
Foi o amadurecimento que levou André Agassi a saber aproveitar o talento e a deixar de ser um produto de marketing. Quando começou a investir no conteúdo em detrimento da forma, o norte-americano conquistou gradualmente a admiração de todos. O antigo campeão da modalidade, Mats Wilander, é disso um exemplo: “Agassi é o jogador que mais mudou enquanto pessoa e tenista; tornou-se no ser que mais respeito me merece na história da modalidade”, lê-se no Jornal do Ténis (de 2003).

Ao longo de uma carreira de 21 anos, o norte-americano, com 36 no bilhete de identidade, naturalmente que fica na história pelo ténis que jogou. Agassi será recordado pelo elevado ritmo exibicional, pela sua poderosa direita, e a precisão da esquerda que executava a duas mãos. No currículo, vários títulos: 60 no total. Oito do Grand Slam, um Masters, uma medalha de ouro olímpica, duas Taças Davis e 101 semanas como líder do ranking mundial. Em Portugal, esteve por uma ocasião. No Masters de 2000 onde perdeu na final com Gustavo Kuerten.


André Agassi terminou a carreira no sítio certo para receber a ovação merecida. Largos minutos de palmas dos 24 mil espectadores que o foram ver a pensar que ainda não era sábado que perdia. No final, depois de derrotado pelo alemão Benjamin Becker, o norte-americano despediu-se à altura:

“O marcador indica que perdi, mas não o que eu ganhei. Durante 21 anos encontrei em vós a inspiração, a lealdade e a generosidade. Permitiram que me apoiasse nos vossos ombros para atingir os meus sonhos. Vou guardar esses momentos para o resto a minha vida”.



Obrigado, André.
O prazer foi nosso.

set.2006 

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