Wednesday, August 16, 2006

Universidades da Terceira Idade

O regresso à Escola

Envelhecer bem e com dignidade. Acima de tudo ensinar aos idosos que com a reforma a vida não acaba. Antes, recomeça. É este o objectivo das Universidades da Terceira Idade. Que tentam dar um sentido diferente à vida das pessoas que não se identificam com a solidão, nem com a inactividade.

Chegar à idade da reforma provoca invariavelmente mudanças na vida de uma pessoa. A rotina diária vivida em função do trabalho, do acordar cedo para cumprir o seu dever, acaba de repente. Como se de um dia para o outro. E é uma nova vida que começa. A maioria fica-se pela distância entre a casa e o jardim. Mas muitos não se contentam, e vêem no regresso aos “bancos da escola” uma razão para continuar.

É na década de 80 que surgem as primeiras Universidades da Terceira Idade (UTI). Três no Norte, duas em Lisboa. Na década seguinte outras 16 são criadas em Portugal.
Trata-se principalmente de um fenómeno urbano, com forte implantação geográfica no litoral norte. É aqui que se encontram 50 por cento das UTI existentes no país. Na sua maioria tratam-se de associações sem fins lucrativos, mas quatro delas tornaram-se em Instituições Particulares de Solidariedade Social, com o objectivo de obterem apoios do Estado.

Na sua maioria, as disciplinas leccionadas são comuns a todas estas Universidades. E dividem-se em duas categorias: as teóricas, que correspondem às línguas e ciências sociais; e as práticas, que incidem sobre as artes plásticas e decorativas, bem como o desporto. Neste, a natação e a ginástica de manutenção cativam muitos destes alunos. São igualmente comuns a quase todas as UTI as actividades “extracurriculares”. Que se diversificam entre visitas de estudo, exposições, conferências e seminários.

As Universidades da Terceira Idade, praticamente na sua totalidade, não estabelecem limites de idade como critério de selecção. A maior parte das pessoas que as frequenta situa-se entre os 50 e os 65 anos. As mulheres estão em larga maioria, chegando nalguns casos a atingir os 80 por cento.

“Aprendo a envelhecer”

“Foi o melhor que fiz à minha vida”. Conta Maria Edite, 59 anos, reformada e residente em Algés. Estuda, juntamente com outros 260 alunos, na USILA – Universidade Sénior e Intergeracional de Lisboa / Algés. Enquanto aguarda pelo início da aula de Expressão Energética, confessa-se feliz com a opção que tomou. “Fizeram-me sentir jovem novamente”. E continua: “Não me considero velha, mas aqui aprendo a envelhecer saudavelmente”.

A USILA funciona de segunda a sexta-feira entre as 10 e as 18 horas, e oferece cerca de 30 disciplinas aos seus alunos. Desde as línguas (Francês, Inglês e Alemão), passando pela História até à Nutrição, Saúde e Ecologia. A nível prático, a variedade vai desde as aulas de Coro à Tuna, não esquecendo a arte dos Tapetes de Arraiolos. As aulas de Expressão Corporal aproveitam a proximidade das Instalações do Sport Algés e Dafundo.

Criar e manter relações sociais, promover as capacidades intelectuais e físicas dos idosos, conservando-lhes a mente e o corpo saudáveis, são os principais objectivos e a razão de ser das Universidades da Terceira Idade.

“Muito para receber”

A reforma altera a Vida de quem a vive. As pessoas passam de um tempo ritmado e organizado, para um tempo contínuo. Em que os dias não são muito diferentes uns dos outros. Com a melhoria das condições e do nível de vida, é normal, e salutar, que muitos idosos / reformados tenham a necessidade de se sentir inseridos cultural e socialmente. De continuarem actualizados e activos em diferentes áreas do conhecimento. Maria Edite explica: “Aprendi que tenho muito para dar, mas também que tenho muito para receber”. Palavras que explicam o sucesso e a elevada procura das Universidades da Terceira Idade.

Estas Universidades, para quem as frequenta, representam uma verdadeira via para redescobrir o sentido da vida. Manuel Fradinho, na obra “ Educação Física Geriátrica “, escreveu: “Envelhecer não é nenhuma doença, nem implica inevitavelmente qualquer sofrimento. Pode-se ser velho, activo e independente, até quase ao termo da nossa existência”.
15. 02. 06
Part-time: Disco-Jockey

O Prazer em dar Música


Para muitos é uma arte. Para outros não passa de simples técnica, de um disco atrás do outro. Falamos da actividade de Disco-Jockey. Muitos fazem dela actividade profissional. Outros, mero passatempo. Gonçalo Alvoeiro, 29 anos, inclui-se neste grupo. Ao seu emprego como funcionário público junta-lhe outro projecto: a Arquitectura. Mas a música, essa, acompanhá-lo-á para sempre. Porque se começou a misturá-la por brincadeira, em bares e para os amigos, passados seis anos continua a ser igual. A mesma brincadeira.

Recuamos no tempo até ao Outono de 1999. Terá sido por esta altura a sua "primeira aparição". Gonçalo Alvoeiro recorda os primeiros discos e o nervoso da primeira actuação. “Em casa, já há algum tempo que tinha os pratos (gira-discos) e vários discos que tocava até à exaustão!”. Mas a primeira vez, é sempre a primeira vez. Aconteceu num bar do bairro Alto. “Estava, claro, um pouco nervoso… mas hoje em dia, quando «toco» em certos sítios, ainda me lembro, e sinto, um bocadinho do porquê desse nervoso”. Porque se em casa, sem pressão, tudo corre bem, cá fora existe sempre aquele receio, o desejo de não falhar.

Ao longo destes anos foi fazendo várias amizades no meio da vida nocturna. E foram estes conhecimentos que o levaram a actuar em diversos locais de diversão. Desde de pequenos bares a grandes discotecas. Para 20, 30 pessoas, como para 500, outras vezes mais. Trabalhou sempre por conta própria. Ou seja, nunca foi representado por nenhuma agência, nem nunca teve um empresário que lhe proporcionasse datas ou locais para actuar. Aqui reside a grande diferença. Porque “nunca quis fazer disto uma actividade profissional, encarei-a sempre como um hobbie”, conta Gonçalo. Para quem os rendimentos conseguidos sempre que actua se limitam a suportar as despesas na compra dos discos.

“Uma grande despesa”

Hoje em dia, principalmente devido à internet, é enorme a facilidade em conseguir obter música. Com um simples download, ao fim de uns minutos a música ali está. Uma atrás da outra, qualquer pessoa as pode ter à mão. Nos dias que correm, com pouco mais de 600 euros, pode-se ter em casa dois leitores de CD e respectiva mesa de mistura. Gonçalo conta-nos que devido a estes pormenores, “qualquer um pode ser dj”. No entanto, conta-nos, “ alguns têm-se dado mal com isso”. A SPA - Sociedade Portuguesa de Autores, “tem andado a apertar devido à pirataria, muitos são apanhados em flagrante, a «tocar», e obrigados a pagar multas, que chegam aos milhares de euros”. Gonçalo conseguiu e faz questão em conseguir resistir a estas facilidades. “Para mim, passar música tem de ser sempre com discos de vinil, serei sempre fiel à tradição”. Uma tradição que o levou a reunir, até agora, perto de 750 discos de vinil, a sua “grande colecção”. Sabendo que cada um nunca lhe custou menos de cinco euros, e que a maioria se cifrou à volta dos dez, “faça-lhe as contas, foi sem dúvida uma grande despesa”.


A actividade profissional como funcionário público ocupa-lhe as manhãs, das oito às 14 horas. Retemperado, a vontade e o ânimo levam-no à Faculdade por volta das 19 horas. O curso de Arquitectura que deixara a meio, “ganhou” novamente força. “Obriga-me a um grande esforço, mas o que pretendo é terminar”. Por isso, mais importante do que ir actuar a algum lado, “este mês o que quero é fazer as frequências, e que elas me corram bem!”. Gonçalo recorda que já não sai à noite “como antigamente”. O interesse e o desejo por ir «tocar» também já são o mesmo que foram outrora. O que não significa que não tenha muito prazer sempre que veste a pele de Dj. Mas ao olhar para trás, ao recordar pessoas que conheceu e locais onde actuou, confessa: “Se desde o início tivesse encarado isto como um futuro para mim, se calhar hoje em dia até via o meu nome aí na praça…!”.
20. 02. 06